Pense numa criatura que provavelmente nasceu montado numa bike. Cena bizarra, né? Também acho, mas até minha mãe acha que foi isso que aconteceu. Não faço outra coisa da vida a não ser pedalar. Meu pai me ensinou quando eu tinha três anos e me deu uma de presente quando fiz aniversário nessa idade. Hehehehe! Ele criou um monstro. Desde então, estou sempre acompanhado da magrela. Claro, tive várias, à medida em que fui crescendo e, quer saber? Tenho todas até hoje! Estou com quase trinta anos, morando sozinho em Campinas, e dediquei a parece principal da minha sala a elas. São quatro magrelas: a primeira de todas, a cross e duas mountains. Hoje uso uma quinta, profissional, que uso pra ir pra todos os lados. Até tenho um carrinho velho lá na garagem, mas o coitado quase não sai de lá. 

E um dia me deu a louca: resolvi percorrer o trecho paulista da rodovia 101, que vai de Peruíbe a Picinguaba, de bike. Claro que é um percurso não extremamente longo, mas que levaria vários dias, então eu o faria nas férias. Sempre tive vontade de fazer esse trajeto pra ir conhecendo devagar as lindas praias do estado, como Ilha Bela, a praia de Maresias, Guarujá… Mesmo morando no estado de São Paulo – e chegaria a qualquer uma delas rapidamente, queria vê-las de forma diferente, e conhecer aquelas que ainda não conhecia (a maioria delas). Passei um ano planejando a viagem e, quando chegou a época, fui.

Planejamento é quase tudo

Sim, uma viagem dessas precisa de orçamento suficiente. Não gastaria com gasolina, mas precisaria pernoitar em vários lugares (e nem sempre encontraria um camping seguro), precisaria me alimentar e hidratar, precisaria de banho (muitos!)… E teria que contar com uma reserva estratégica caso houvesse algum problema de saúde com a magrela; ou comigo.

Foi um ano de economias, planejamento da rota e muita pesquisa, inclusive junto à polícia rodoviária – afinal, a violência está aí e é importante saber direitinho que partes do trajeto apresentam mais risco para, se possível, desviar delas. Onde não fosse possível desviar, o ideal seria seguir em comboio ou, em último caso, seguir num ônibus. Se me roubam a bike, acho que pulo da ponte…

Minha viagem começou lá em cima, em Picinguaba, onde cheguei de busão. A magrela foi no bagageiro, desmontada. De lá vim descendo pelo litoral do estado – e eu recomendo fazer essa rota, porque ter o mar te acompanhando pelas pedaladas não tem preço, meu amigo… que cenário! E foi assim, deslumbrado com aquilo tudo que, no fim da primeira semana, cheguei à charmosa praia de Maresias. E a magrela gostou tanto de lá que resolveu arriar.

Transplante de coroa

Não, nada de concurso de miss (ainda que eu não me oporia à ideia…). A coroa da bike, não sei até agora como, quebrou. Eu tinha acabado de chegar à avenida litorânea pedalando manso e, de repente, PÁ!!! A coroa quebra. Nisso, a corrente correu livre por meio segundo e depois travou na catraca da roda de trás. O susto + a pedalada livre + a travada do pedal foram infalíveis, e lá fui eu morrer com a magrela no chão. Quase uma cena final de Romeu e Julieta. Foi até meio ridículo, porque comecei a falar com ela como se fosse uma pessoa! “Ju!! Cê tá bem?? Quê que aconteceu, Ju??”. Que Ju? Jurema, minha magrela. Ou você achou que eu não dei um nome pra ela?? Claro que dei…

Juntou gente pra me ajudar (o pessoal de Maresias é show de bola), porque o tombo foi muito barulhento e eu ralei bastante na perna e no braço até os ombros. Só não foi pior porque eu estava de capacete, mas os ralados foram feios, e sangraram um tanto bom. Me levaram a uma farmácia perto dali para o farmacêutico me fazer uns curativos. Pelo que disseram, não precisei de pontos por pouco. E mesmo que precisasse, podiam dar sem usar anestésico, porque seu só queria saber da Jujuzinha. Deixaram ela trancada em frente à farmácia, e um dos caras que foram me ajudar era vizinho de um dono de oficina. Depois dos curativos prontos, colocamos Jurema no caminhão de mudanças dele (olha a história, velho…) e fomos até lá. Não era longe dali. Só que ele não tinha aquela coroa disponível; poderia pedir, mas só chegaria em dois dias. Fazer o que? Me hospedei numa pousada e esperei a peça chegar.

Acabei foi ficando uma semana inteira, porque voltei à farmácia pra agradecer o pessoal e acabamos fazendo amizade! Um deles eu consegui convencer a aderir às pedaladas, o outro “nem por dinheiro”, segundo ele mesmo. Preguiçoso pra caramba.

Deixei a praia de Maresias até com tristeza, porque apesar do problema com a Ju, os dias que passei lá foram os melhores da viagem toda! Mas ficou a promessa de voltar – e de pedalar com os caras.

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