Ter pai bancário é um problema. O meu nunca foi, até que passou num concurso e se tornou um. E como todo bancário, depois de alguns anos ele foi transferido de agência. Mudar com a casa toda, a família toda, sem deixar o cachorro pra trás… já viu, né? Uma confusão danada. Mas pelo que entendi, ele não poderia negar essa transferência – não sem sofrer alguns problemas lá na agência. Mas eu prefiro acreditar que ele era obrigado, mesmo.

Nós somos do litoral, mais especificamente da praia de Maresias, e eu praticamente nunca saí da região. Antes de passar no concurso, meu pai trabalhava numa panificadora do bairro e minha mãe num ateliê de costura. Tínhamos o que precisávamos, sem sobrar mas também sem faltar, então não viajávamos muito. Eu não me importava com isso, mas isso também me impediu de conhecer pessoas diferentes, com culturas diferentes. Só os turistas, que de vez em quando puxam papo com a gente na praia, mas fora isso… Só fui conhecer mesmo quando me mudei. Interior de Minas.

 I’m a english man in New York

 Meu pai foi na frente para providenciar uma casa e os procedimentos burocráticos necessários; minha mãe e eu fomos, com mudança e tudo, duas semanas depois (até que foi rápido). Quando chegamos, de noite, eu não tive muita noção do lugar, mas, quando amanheceu, levei um susto tremendo. Não tinha mar, não tinha maresia, mas tinha uma quantidade de morros tão grande que eu demorei a me acostumar! Pra qualquer lado que eu quisesse ir, teria que subir ou descer algum deles. Alguns eram tão a pique que ao invés de rua, deveriam ter construído uma escada! “Quero voltar pra Maresias…”.

 Gosto muito do Sting, cantor, e ele tem uma música intitulada “I’m a english man in New York”, onde ele relata como o britânico é diferente dos americanos. Eu fiquei com essa música da cabeça por dias depois da mudança, porque eu me sentia muito diferente. Os mineiros são ótimos, super acolhedores, mas quando percebem que somos de outro lugar, nos enchem de perguntas. Na minha escola nova, quando minha professora me apresentou à turma e disse que eu vinha da praia de Maresias, uns dois ou três já me cumprimentaram fazendo aquele “hangloose” com as mãos e dizendo “e aí?? Beleza??”. Na verdade, eu já tinha reparado que os meninos da Minas sempre tiram selfie fazendo essa mãozinha, mas foi estranho eles me cumprimentarem assim como se eu fosse surfista de filme.

 Sotaques, sotaques…

 Sotaque é uma coisa que pega, mesmo. Meu “S” puxado (eles me zoam colocando “X” nas palavras) chama a atenção até hoje, seis meses depois. Minha mãe disse que já tá enfraquecendo e virando “S de mineiro”, mas eu não notei. Nem o pessoal, porque ainda mexem comigo por causa dele. E eu mexo com eles por causa do “R”! É um tal de “porrrta, porrrteira, porrrtão” que racho de rir! E quem não nota o sotacão carregadissimo são eles! É muito engraçado!

 Mas sabe o que me fez sentir menos saudade da minha praia de Maresias? A comida. DEUS, o que é essa culinária mineira?? Mês passado teve festa junina no bairro, numa quadra poliesportiva que tem no meio dele. Até fogueira fizeram! E vieram moradores trazendo panelas gigantes com canjiquinha com linguiça, “feijão amigo” (nunca tinha ouvido falar, mas me apaixonei pelo negócio), cachorro-quente, pé de moleque… Devo ter engordado uns 3 quilos nessa brincadeira. E amanhã devo engorrdar mais uns nove, porque vai ter festival de pão de queijo na padaria da minha rua e já me adiantaram que nenhuma dieta resiste a esse festival deles. E eu ligo?? “Pó trazê os pãozim di quêjo tudo”!!

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